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Fruição estética e anestesia

No curso discutiu-se questões sobre o sublime, a fruição estética e o naufrágio do espectador. No texto, “Estética e anestética: uma reconsideração de A obra de arte de Walter Benjamin”(2012) Susan Buck-Morss argumenta como a fruição estética se transforma em anestesia a partir da exacerbação dos estímulos sensoriais sofridos pelos indivíduos no ambiente urbano moderno.

A análise de Buck-Morss parte da categorização da estética - que não se trata em sua raiz de uma relação com a obra de arte, da relação entre Arte, Beleza e Verdade, mas está inteirada ao campo dos estímulos, do sensório, sendo um termo aplicado a arte somente no decorrer da era moderna. Ao longo do texto Buck-Morss descreve diferentes percepções da estética passando pela análise das narrativas dos escritos de Kant, Johann Winckelmann e Nietzsche diferenciando-as em estética masculina e estética feminina.

Em outro momento do texto a autora traça relações entre estética e o sistema nervoso, apresenta alguns exemplos de estudos anatômicos do século XIX que abordam a morfologia do sistema nervoso e sua relação com a expressão facial. No texto essa relação também é feita a partir de imagens como a tela Bétulas podadas(1885) de Vincent Van Gogh e um desenho de células neurais feito pelo anatomista Vladimir Betz.

Partindo dessa comparação Buck-Morss afirma que a percepção estética da modernidade feita por Walter Benjamin se baseia em uma concepção neurológica, o conceito de choque caracteriza essa interação rápida da percepção em que o indivíduo é confrontado com esses múltiplos estímulos resultando em apatia, em um feito traumático. Essa relação entre estímulo e apatia é anterior a Benjamin, foi feita por Simmel que descreve os efeitos entorpecedores do choque e a atitude blasé como forma desse indivíduo se resguardar desses incessantes estímulos do espaço urbano. Tratando-se do ambiente urbano na modernidade, a autora descreve essa atmosfera, enumera múltiplos estímulos que estavam presentes na configuração da cidade moderna tal como os aromas das perfumarias e o ópio, ambos com efeitos entorpecedores, assim como o próprio trabalho que estimulava uma automatização do corpo, um entorpecimento/mecanização dos gestos, dos sentidos.

A partir dessa relação entre estética e anestesia tratada nesse texto é possível traçar um paralelo com as discussões sobre o naufrágio do espectador levantadas nas discussões em sala ?


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